


Passados 3 dias de viagem, preciso dizer umas coisas sobre a estrada. O trecho percorrido ate aqui é muito bem sinalizado com os totens da ER. Nao da pra se perder. Em compensacao, as distancias entre os povoados é muito grande, vc passa horas sem ver uma viva alma e a topografia é bem mais agressiva do que no trecho Ouro Preto - Paraty. Pra comecar, quase nao tem asfalto. É muita terra, areia, ondulacoes (costelas) e sol forte com vegetacao baixa, quase nao tem sombra.
Sai as 8 depois de um cafe com leite pao com manteiga, bolo e iogurte! A D. Mariana me deu as dicas. Foram 4 km de subida no asfalto ate a estrada de terra para Morro do Pilar. Ai desce uns 6 km numa estrada muito boa e depois sobe uns 4 km bem pesados. Mas era de manha, eu tava cheio de gas e o sol permaneceu sob um fino veu de nuvens, o que tornou a pedaladaa muito suave. Depois desce uma infinidade ate o rio Santo Antonio, um lugar otimo pra entrar na agua se tiver tempo. Eu tava com os minutos contados, mas deu pra fazer umas fotos. Ai sobe umas serras de responsa ate o Morro do Pilar - nome mais adequado, se tiver plebiscito pra mudar de nome bota Morros Infinitos, vai cair bem.
A cidade nao tem nada. So uma igreja amarela com o pe direito mais alto que ja vi, deve ter uns 20 metros. Parei na Cantina Pilar onde tem almoco self service e frango assado. A dona fez um pao com carne e ovo que devorei com uma coca-cola de 500ml. Descansei um pouco e depois peguei 7 km de sobe e desce (mais desce do que sobe) ate a ponte sobre o Rio Picao (é um tipo de mato, nao é o que sugere...rs). Cheguei a 1 da tarde. O sol tava quente, a correnteza tava convidando, nao deu outra; cai na agua gelada e foi a melhor coisa que fiz desde que comecou a viagem. Uma delicia o banho de rio, o sol na cara, a agua gelada. Minutos depois chegou um maluco que ta fazendo o trecho Ouro Preto - Diamantina. É o Pedro, um santista que estuda em Ouro Preto e ta aproveitando aa ferias pra viajar de bike na ER. Ele tava passando direto mas qdo me viu na agua caiu dentro tb. Conversamos um pouco, ele ta mandando muito forte, saiu de O, Preto anteontem, fazendo uma media de 90 km por dia. Ele saiu hj de Itambe do Mato Dentro, meu destino, as novimeia da manha. Me deu a dica da pousada de 20 reais e eu dei os toques sobre Pilar e CMD.
Existe nessa regiao uma lenda sobre um velhinho de 80 e tantos anos que anda pelos campos e mora numa caverna. O Pedro me disse que encontrou com ele hj de manha, que visitou a caverna dele, fez fotos, etc. ,e disse que qdo eu ver duas pedras enormes na estrada, que eu voltasse um pouco e iria ver uma trilha a esquerda que vai dar na caverna do velho. Achei que era lenda.
Deixei o Pedro na agua e me mandei. Aqui comecavam os morros sinistros, saindo da cota 550m e indo a 800m. Acho que poucas vezes subi tanto na minha vida. O banho de rio me renovou, os primeiros morros eu subi com todo o gas e confianca. Mas passando o tempo, a tarde apertando, o sol ate que colaborou mas o calor era forte, os morros seguintes foram ficando bem dificeis. Um exercicio de equilibrio psicologico e resistencia. Se fosse pra subir so com as pernas nao dava, foi preciso pedalar com a mente, tambem. Subia, parava, criei um sistema de premiacao que consiste em beber agua ou comer alguma coisa sempre que se atinge uma meta tal como subir um tope, vencer uma montanha, e por ai vai.
Teve momentos em que suei frio, a pressao abaixou, a idade mostrando os seus dentes amarelos. Voce precisa se conhecer, saber estabelecer as suas metas e reconhecer os seus limites. Parava, descansava, sempre inventando um sistema de recompensa. Eu tava quase morto qdo vi as duas pedronas na estrada de que o Pedro havia falado.
Realmente tinha um trilho a esquerda que descia a um amontoado de outras pedronas que bem podem fazer uma caverna. Mas eu tava cansado demais pra procurar a lenda... Fiz fotos e parti. Tinha que subir 2 km e descer outros 2 e subir mais um ultimo tope de 2 km. A estrada nao ajuda, muito buraco, ladeiras ingremes e eu ja comecava a racionar a agua que estava quase acabando.
No ultimo trecho de 8 km tem um corrego nao muito convidativo como o rio Picao, mas cai dentro assim mesmo, apesar do leito estreito, cheio de pedras e da agua meio parada. Deve estar contaminado, sim, mas com o calor que eu tava e com mais 4 km pra subir, precisava de um banho. A agua gelada me despertou pros kilometros finais. Pra quem vem de CMD, como eu, é bom se preparar pra empurrar a bike por maizomenos 1,5 km antes de chegar em IMD. A estrada vira pura areia, vc bota na coroinha, anda um pouco com giro maximo mas acaba atolando. Ai, meu irmao, é só empurrando. Itambe da Areia Dentro!.
Entrei na cidade as quatrimeia da tarde, depois de 64,3 km, 11,2 km/h de media e 5:41h de pneu rolando. Achei o hotelzinho que o Pedro me indicou, mas a cidade estava sem luz. Passada uma hora a luz voltou e deu pra tomar um banho quente. Comida? Nao tem comida domingo a noite e a unica pizzaria da cidade estava fechada porque morreu alguem da familia da dona... O jeito foi comer um x-tudo no trailler. Bom que conheci um casal muito bacana de BH, o Emerson e a Samia que tambem saem nos fins de semana procurando aventuras. Dessa vez o carro deles quebrou e eles tiveram que passar a noite em Itambe.
Aqui é o meio da viagem. Amanha quero dormir em Cocais, mais 60 km de pedreira!