quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ouro Preto - 06/08/08 - Quarta Feira - Fim da Viagem


Depois de um jantar muito bom no pico do sol, uma refeicao caseira por 7 reais e papo instrutivo sobre fabricas de celulose com os frequentadores do lugar, dormi bem agasalhado na pousada Pieta. A chuva fez a temperatura baixar muito, 9 graus disse o dono da pousada.
Catas Altas é um povoado de pouco mais de 3000 hab mas nao tem economia propria alem do turismo. As pessoas que moram la trabalham nas fabricas da regiao, e ha muito reflorestamento para fabricacao de celulose. Dai as plantacoes de eucalipto que eu passei ontem e hoje.
O dia comecou as seis e meia, dando a ultima geral na bike, arrumando a tralha. Louco pra chegar. Tomei um bom cafe as 7 e trocando ideias com o dono da pousada resolvi seguir pelo asfalto. A chuva de ontem deixou as estradas de poeira muito enlameadas, nao deu tempo da terra absorver a agua ainda. Pra aumentar a minha inseguranca, a D. Selma disse que o pessoal do lugar andou tirando os totens pra fazer casa (?) e que a estrada nao tava sinalizada. Ok, pode ter sido terror deles mas qdo me disseram que o asfalto é tranquilo, sem muito movimento, resolvi testar pra ver. Foi tranquilo, os poucos caminhoes respeitaram a falta do acostamento e depois de 56,3km com subidas fortes no comeco e no final, cheguei em Ouro Preto quase as 2 da tarde. Media de 13,3km/h com 4:15 de pneu rolando. Os ultimos 10 km, depois de Mariana sao mortais. Puro morro, quase sem descanso.
Enquanto tomava banho na pousada Estalagem, enquanto pensava como embalar a bike pra viagem de onibus ate BH, tive a ideia de deixa-la em Ouro Preto e vir de onibus pra BH. Amanha ou depois eu vou de carro e pego a magrela. Seria um estorvo arranjar caixa pra embalar, desmontar, embalar e negociar com taxistas mercenarios para levar a caixa ate a rodoviaria.
Fim da viagem, foram 379,3km montado na bicicleta, vento na cara, suor no rosto, em contato com a natureza exterior e interior de Minas Gerais.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Catas Altas - Terça Feira - 05/08/08




Jantar em B. Jesus do Amparo é no restaurante da Edna, ao lado do posto de gasolina. Excelente comida, otimo atendimento e o preco minimo. Muito bom!
Dormi as 11 da noite e despertei as quatrimeia. O cafe na pousada Real foi servido as 7, com suco, cafe com leite, biscoitos, paes e margarina (argh!). O dono da pousada é o Joaozinho, que me deu as dicas da estrada. Sobe 3km de asfalto em direcao a BH, depois pega 4km de asfalto ate o trevo de Itabira e ai comeca a estrada de terra, estreitinha, com muito casacalho mas sem morros fortes. Depois de uns gkm atravessa a BR 381 (muito perigosa) e pega outra estrada de terra ate Cocais. Sao ,ais 15km numa estrada cheia de derivacoes, tem um trecho de uns 2km dentro de uma plantacao de eucaliptos, um lugar hostil, so tem um tipo de vegetacao, uns insetos que te picam mesmo pedalando. Mas ta tudo muito bem sinalizado com os totens da ER, nao siga a sua intuicao nesse trecho, siga os totens.
Cheguei a Cocais as 10h, depois de 2h de pedal. Meio decepcionante o lugar, nao vi nada muito legal exceto o casario antigo. Resolvi fazer os 20 km ate Sta Barbara pelo asfalto porque o ultimo trecho tinha muita poeira solta e a corrente estava muito suja. Dei uma limpada e peguei a estrada. Sobe 4km com caminhoes passando a um palmo da sua orelha e depois desce e sobe ate Barao de Cocais. Esse lugar é horroroso, muitas industrias, caminhoes imensos, muita poluicao. Mais uns 9 km de asfalto e consegui achar finalmente a estrada de terra. O asfalto é muito perigoso, os caminhoes ameacam e vc se sente um nada. Experiencia muito ruim.
Peguei a estradinha de terra a direita um pouco depois de Sta Barbara que logo se trensformou num single tracl de uns 2km no meio do pasto. Aqui tem de perguntar, senao nao acha a entrada do trilho. Depois volta pra estrada e sao 18 km muito bons, com pouca areia e lugares muito bonitos.
Quase no final tem um tunel que passa debaixo da estrada de ferro e a estradinha acaba dai uns 50m, na frente de uma casa de onde sairam 4 cachorros grandes, latindo forte, correndo em minha direcao. Quem tem pavor de cachorro como eu sabe que numa hora dessas nao pode raciocinar. Nao dava nem pra tentar correr, nao tinha ne, desmontado da bike ainda. As feras ficaram latindo ao redor de mim, rosnando ameacadoramente, mas nao avancavam. Eu joguei meu espirito la no alto da serra, procurei respirar e nao deixar a adrenalina tomar conta do meu corpo. Fiquei quieto fazando sshhhh por uns segundos (que pareceram minutos) ate que apareceu o Sr. Dico. Cara bacana, recolheu as bestas e me mostrou uma tronqueira quase invisivel, logo depois do tunel. Ai foi facil, mais uns 4km numa estradinha ao lado da serra (que visual, fiz ate um filminho) e cheguei em Catas Altas. Essa cidade sim, tem muitos lugares bacanas e o ar parecido com o de Tiradentes.
Enquanto eu tentava achar uma pousada caiu a maior chuva, sorte que me abriguei na oficina de bicicletas do Leandro e ele me indicou uma pousada. Aqui é caro, 50 paus so pra dormir e cafe da manha na pousada Pieta. Mas a outra (Laetitia) que possivelmente é mais barata, nao tinha ninguem pra atender! Esperei quase uma hora... Acabei chegando debaixo de chuva na porta da pousada, sorte a minha, do jeito que foi repentino, se estivesse na estrada nao daria tempo de proteger a bagagem.
Hoje foram 66,8km, media de 14,1km/h e 4;43h de pneu rolando.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Bom Jesus do Amparo - Segunda Feira - 04/08/08



O trecho de Itambé do Mato Dentro até Bom Jesus do Amparo é muito tranquilo. Sai as 8:30 depois de dar uma geral na bike no posto de gasolina, limpar a corrente, calibrar os pneus e encher as caramanholas numa fonte agua potavel que jorra do muro da casa de uma senhora generosa. Ela me explicou que a água é pura, vem de uma nascente nos fundos do terreno dela, enche a caixa dagua e o que sobra ela canalizou pra essa fonte. A água é realmente muito boa!
Saindo de Itambe tem um morro bem forte de uns 4 km e em segida é um sobe-e-desce sem muito esforço até Senhora do Carmo, 16km depois. No mapa da ER consta 14, mas são 16 - quem pedala sabe que esses 2km fazem uma diferença!! Dei mais uma regulada no cambio, percebi que um raio da roda traseira quebrou (mas foi só um, André...rsrs) e segui para Ipoema. A estrada é muito traquila, sem morros fortes, as 11:45 eu tava entrando no povoado que pertence a Itabira. Fiz um lanche na rodoviária (que é o lugar onde se faz lanche em Ipoema), descansei por uma hora pra ver se o sol dava um refresco e segui pra Bom Jesus do Amparo. São 13 km bem tranquilos também, a topografia de hoje foi um refresco. Dava pra chegar traquilamente em Cocais (+ 24km), mas eu nao tava com a altimetria, fiquei sem saber o que iria encontrar.
Depois que acertei na Pousada Real (20 reais com cafe da manha e banho com uma ducha muito boa) me informaram que o trecho até Cocais é fácil, dava pra ter chegado. Mas foi legal, aproveitei pra fazer a barba, comprar uma camiseta porque a unica que eu trouxe está toda suja de poeira e descansar um pouco. Hoje foram 3h51min de pneu rolando, media de 11,9km/h, total de 46,2km rodados.
Queria dar um toque sobre ferramentas e peças sobressalentes, todo mundo se pergunta o que levar, vai faltar, vai ficar pesado, é sempre um dilema. Tem umas coisas básicas que não podem faltar como um canivete Allen, bomba, remendos, espatulas pra tirar pneu, chave e oleo de corrente e camara de ar reserva. Se a sua bike tiver gancheira, traz uma tambem porque se ela quebrar acabou a viagem. Pra esse tipo de terreno daqui (muita areia, poeira e ondulações)convem trazer tambem um pano pra limpar a corrente de vez em quando, lubrificar e tirar o excesso de oleo. Ajuda muito e evita quebrar. No mais umas fitas Hellermann (aquelas tipo algemas...), esparadrapo (que serve pra machucados e quebra o galho em muitas outras coisas), cabos de freio de cambio reservas completam o basico. Eu trouxe também uma multichave com varios bicos (fenda, phillips, etc) que nao usei pra nada. Cabe tudo numa pochete que vai virada pra tras e leva tambem os rangos de trilha do dia.

Hoje recebi uma noticia que me balancou, deu vontade de interromper a viagem. Mas nao sei quando vai dar pra fazer outra e só faltam 3 dias, no máximo, acho que vou até o fim. Cris, te amo!!

Itambe do Mato Dentro - Domingo - 03/08/08




Passados 3 dias de viagem, preciso dizer umas coisas sobre a estrada. O trecho percorrido ate aqui é muito bem sinalizado com os totens da ER. Nao da pra se perder. Em compensacao, as distancias entre os povoados é muito grande, vc passa horas sem ver uma viva alma e a topografia é bem mais agressiva do que no trecho Ouro Preto - Paraty. Pra comecar, quase nao tem asfalto. É muita terra, areia, ondulacoes (costelas) e sol forte com vegetacao baixa, quase nao tem sombra.
Sai as 8 depois de um cafe com leite pao com manteiga, bolo e iogurte! A D. Mariana me deu as dicas. Foram 4 km de subida no asfalto ate a estrada de terra para Morro do Pilar. Ai desce uns 6 km numa estrada muito boa e depois sobe uns 4 km bem pesados. Mas era de manha, eu tava cheio de gas e o sol permaneceu sob um fino veu de nuvens, o que tornou a pedaladaa muito suave. Depois desce uma infinidade ate o rio Santo Antonio, um lugar otimo pra entrar na agua se tiver tempo. Eu tava com os minutos contados, mas deu pra fazer umas fotos. Ai sobe umas serras de responsa ate o Morro do Pilar - nome mais adequado, se tiver plebiscito pra mudar de nome bota Morros Infinitos, vai cair bem.
A cidade nao tem nada. So uma igreja amarela com o pe direito mais alto que ja vi, deve ter uns 20 metros. Parei na Cantina Pilar onde tem almoco self service e frango assado. A dona fez um pao com carne e ovo que devorei com uma coca-cola de 500ml. Descansei um pouco e depois peguei 7 km de sobe e desce (mais desce do que sobe) ate a ponte sobre o Rio Picao (é um tipo de mato, nao é o que sugere...rs). Cheguei a 1 da tarde. O sol tava quente, a correnteza tava convidando, nao deu outra; cai na agua gelada e foi a melhor coisa que fiz desde que comecou a viagem. Uma delicia o banho de rio, o sol na cara, a agua gelada. Minutos depois chegou um maluco que ta fazendo o trecho Ouro Preto - Diamantina. É o Pedro, um santista que estuda em Ouro Preto e ta aproveitando aa ferias pra viajar de bike na ER. Ele tava passando direto mas qdo me viu na agua caiu dentro tb. Conversamos um pouco, ele ta mandando muito forte, saiu de O, Preto anteontem, fazendo uma media de 90 km por dia. Ele saiu hj de Itambe do Mato Dentro, meu destino, as novimeia da manha. Me deu a dica da pousada de 20 reais e eu dei os toques sobre Pilar e CMD.
Existe nessa regiao uma lenda sobre um velhinho de 80 e tantos anos que anda pelos campos e mora numa caverna. O Pedro me disse que encontrou com ele hj de manha, que visitou a caverna dele, fez fotos, etc. ,e disse que qdo eu ver duas pedras enormes na estrada, que eu voltasse um pouco e iria ver uma trilha a esquerda que vai dar na caverna do velho. Achei que era lenda.
Deixei o Pedro na agua e me mandei. Aqui comecavam os morros sinistros, saindo da cota 550m e indo a 800m. Acho que poucas vezes subi tanto na minha vida. O banho de rio me renovou, os primeiros morros eu subi com todo o gas e confianca. Mas passando o tempo, a tarde apertando, o sol ate que colaborou mas o calor era forte, os morros seguintes foram ficando bem dificeis. Um exercicio de equilibrio psicologico e resistencia. Se fosse pra subir so com as pernas nao dava, foi preciso pedalar com a mente, tambem. Subia, parava, criei um sistema de premiacao que consiste em beber agua ou comer alguma coisa sempre que se atinge uma meta tal como subir um tope, vencer uma montanha, e por ai vai.
Teve momentos em que suei frio, a pressao abaixou, a idade mostrando os seus dentes amarelos. Voce precisa se conhecer, saber estabelecer as suas metas e reconhecer os seus limites. Parava, descansava, sempre inventando um sistema de recompensa. Eu tava quase morto qdo vi as duas pedronas na estrada de que o Pedro havia falado.
Realmente tinha um trilho a esquerda que descia a um amontoado de outras pedronas que bem podem fazer uma caverna. Mas eu tava cansado demais pra procurar a lenda... Fiz fotos e parti. Tinha que subir 2 km e descer outros 2 e subir mais um ultimo tope de 2 km. A estrada nao ajuda, muito buraco, ladeiras ingremes e eu ja comecava a racionar a agua que estava quase acabando.
No ultimo trecho de 8 km tem um corrego nao muito convidativo como o rio Picao, mas cai dentro assim mesmo, apesar do leito estreito, cheio de pedras e da agua meio parada. Deve estar contaminado, sim, mas com o calor que eu tava e com mais 4 km pra subir, precisava de um banho. A agua gelada me despertou pros kilometros finais. Pra quem vem de CMD, como eu, é bom se preparar pra empurrar a bike por maizomenos 1,5 km antes de chegar em IMD. A estrada vira pura areia, vc bota na coroinha, anda um pouco com giro maximo mas acaba atolando. Ai, meu irmao, é só empurrando. Itambe da Areia Dentro!.
Entrei na cidade as quatrimeia da tarde, depois de 64,3 km, 11,2 km/h de media e 5:41h de pneu rolando. Achei o hotelzinho que o Pedro me indicou, mas a cidade estava sem luz. Passada uma hora a luz voltou e deu pra tomar um banho quente. Comida? Nao tem comida domingo a noite e a unica pizzaria da cidade estava fechada porque morreu alguem da familia da dona... O jeito foi comer um x-tudo no trailler. Bom que conheci um casal muito bacana de BH, o Emerson e a Samia que tambem saem nos fins de semana procurando aventuras. Dessa vez o carro deles quebrou e eles tiveram que passar a noite em Itambe.
Aqui é o meio da viagem. Amanha quero dormir em Cocais, mais 60 km de pedreira!

sábado, 2 de agosto de 2008

Fim do dia 02/08

Acabei ficando em Conceicao do Mato Dentro, sem achar camara de ar e sem colar o dente. Mas resolvi as pendencias de grana e achei um pouso bacana na casa da D. Mariana. Nao tinha jantar incluido mas acabei achando um PF de feijao tropeiro por 5 reais. Muito bom! Dei uma volta na cidade, nao tem nada - mas tem aeroporto! - umas igrejas velhas e um povo quase negro com os olhos intensamente verdes. Achei um lugar bacana pra ver o por do sol, na casa de um maluco que se chama Sergio e tem um bar em casa onde recebe grupos de reage da regiao. Acredite, em CMD tem grupos de reage que tocam bem pra caramba - enquanto o sol baixava eu ouvi os mp3. Fiz fotos do sunset, das igrejas e casarios velhos e procurei informacoes sobre a rota de amanha. Ninguem sabe nada! Minha esperanca é o marido da D. Mariana que ainda deve chegar, assim espero. Falei com o Peu, com o Leo e com a Cris. Hoje foram 50,9 km, media de 13,2 km/h, com 3:50h de pneu rolando. No pane, no crisis. Amanha vai ser morro foda!

Conceicao do Mato Dentro - Sabado - 02/08/08


A noite em Alvorada de Minas foi uma bosta, exceto pela comida muito boa, arroz feijao, macarrao, frango, farofa e tomate. Comi dois pratos de peao com pimentta boa e coca-cola pra ajudar. Passar o dia sem comer e enfrentar esses PF a noite é um convite a nao mastigar. Dessa vez fui mastigar direito e meu dente quebrou. Agora vou banguela ate o final, incomoda um pouco mas a gente se acostuma. A gente custa mas se habitua! Dei ma volta no povoado, tem 3 igrejas velhas e mais nada. Um sossego absoluto, fico imaginando como deve ser isso aqui numa noite de quarta-feira. Mas tem um posto de "inclusao digital" da prefeitura com um computador para o povo preencher formularios e consultar dados burocraticos (a incluso digital é do governo) e tem lan house. Uma porrada de adolescentes oleosos se aglomerando em torno de 4 computadores pretos, com as roupinhas mais surradas, chinelas, os dedos grossos de lavoura, as unhas sujas de terra segurando o mouse com aflicao e jogando CS! Matanca em Alvorada de Minas. Quando me indagam de onde eu venho e eu falo que é do Rio de Janeiro, eles param um pouco e perguntam se lá nao é muito violento nao. VTNC! Tinha uma menina de uns 16 no orkut tambem. Entendi que adolescente é igual em qquer lugar.
A cidade esta cheia peoes, construtores do asfaltamento da ER no trecho ate o Serro Frio. Sao um bando de rapagoes fortes pra caramba que bebem muita pinga e jogam sinuca. Tinha um com a camisa do mengao a quem chamavam indio. Este nao jogava sinuca, so bebia cachaca e tentava atrair a atencao de uma das 4 popuzudas que dancavam funk na rua, ao som de um porta malas aberto. Foi foda dormir com esse e mais 2 outros porta malas abertos, um tocando sertanejo e o outro forro, alem dos DJ da pesada, é claro.
Li um pouco, ouvi radio e cochlei das onzimeia ate as 7, ao som de muita musica. Qdo levantei nao tinha cafe pronto, arrumei minha tralha, a roupa nao secou, tomei cafe puro (argh!) com pao com margarina (argh!) e parti. Segui por uma estrada que o dono da pensao indicou na perspectiva de fugir da tal estrada de ita*#@&canga. Ele disse que era mais baixada, mas esqueceu de falar que pra baixar tem que subir primeiro. E como sobe, putzgrila, subi uns 8 km de uma estrada muito boa e peguei otimas descidas, tb. 17 km depois eu tava pegando agua com o dono de uma vendinha, a primeira que ele me deu era puro gosto da pinga que se serviu do litro antes da agua, mas a outa tinha gosto de barro bom - oh agua benta. Ele me deu dicas pra chegar em Conceicao do Mato Dentro. Foram mais 33 km de ondulacao, subidas interminaveis sem um galho de sombra e uma areia solta que me obrigava a pedalar ate nas descidas. Se nao pedalasse a bike parava. Parava mesmo, eu testei!. Cheguei moido em CMD a 1 da tarde e a cidade mais proxima fica a 26km de morro tosco pela altimetria da ER.
Preciso ir ao banco, preciso mandar dinheiro pro Leo pagar a Veronica, preciso ver se encontro uma camara de ar, preciso tentar colar meu dente, preciso achar uma pousada maizomenos pra compensar a pauleira de ontem.

Alvorada de Minas - Sexta-Feira - 01/08/08



A indecisao é uma especie de erro por natureza em que o resultado é sempre indesejado. A noite em Milho Verde foi fria e longa. Tive dificuldade pra dormir, talvez pela tonelada de comida otima que devorei quase sem mastigar. Arroz, feijao, carne moide com um legume que eu nunca vi (parece maxixe), carne de porco e cenoura cozida. Dois pratos com direito a couve no segundo. Uma ignorancia. O filho da D. Lourdes, Ricardo, passou no vestibular de Direito e ficou me puxando a lingua. Surpeendentemente bem informado o rapaz para quem mora naquele nada. Prova que inteligencia e bom senso nao dependem tanto de berco. Hoje com 58 anos, ela me disse que o adotou aos 40 quando desistiu de tentar ter filhos proprios. Nao deu certo - ela disse. O marido dela, bem humorado, contador de casos deve ter uns 45, parece uma crianca discutindo e contrariando o futuro advogado. Fui deitar as 9 mas nao apaguei antes de meia noite. As 5:30 os galos comecaram a cantar e nao deu pra dormir mais. Sai da pousada as 7:30, a D. Lourdes ainda nao tinha feito cafe. Na padaria onde comi pao com margarina e cafe com leite quente encontrei tres caras que estao indo pra Diamantina, sairam de S.J. Del Rey. Ele estao levando barraca, fogareiro, saco de dormir, uma tralha imensa. Mas sao jovens, pedalam forte. Me deram dicas sobre o meu trecho e eu falei pra eles sobre o morro de Vau. Pe na estrada que foi boa comparada com a de ontem e a magrala nao apresentou defeito, exceto pelo pneu dianteiro vazio de manha. No meio do caminho entendi que pedalar sem cuecas é melhor pra nao machucar ao lado do saco. Claro que passou um carro na hora que eu tava me desfazendo dela, o primeiro e unico que eu vi nos 22km ate o Serro Frio. Cheguei as 11h devido as fortes subidas, media pouco mais de 10 km/h, como ontem. Tinha esperanca de encontrar uma camara de ar que sirva na minha bicicleta. É muito arriscado andar sem sobressalente como eu tou fazendo. Deu meio-dia e nao achei. Comi dois salgados, coca-cola e comecou a indecisao. Tem um morro de 8km com inclinacao brutal na estrada pra Corregos. Antes de chegar nele, os caras de S.Joao me disseram que tem a pior estrada do mundo ate Itapanhoacanga (que nome!) com muita areia e buracos. Sao 72 km ate corregos, calculei que se eu chegasse, chegaria de noite. Tomei informacoes na secretaria de turismo de Serro e o garoto me orientou a sair da ER e ir pela MG-10 ate Conceicao do Mato Dentro, 60 km. Mas so tem um povoado no caminho, a 15km, depois sao 45 km de nada, nem agua. A indecisao baixou sua asa negra na minha mente. Depois de uns minutos de suspensao decidi ir pela MG-10, pelo menos eu chegaria. Mas foi preciso pedalar 5 km pra descobrir que eu tava na estrada errada. Voltei empurrando por um morro de pedra infinito, tangido pela mao pesada da indecisao. Ja eram 12:30h. Fui no posto, dei uma ducha na bike, tirei o pneu dianteiro e vi que ta td bem com a camara, é só fechar o bico direito. Decidi ficar no Serro, perguntei numa pousada e era 40 reais. Olhei o relogio 1 da tarde, apesar do sol inclemente tinha muito dia pela frente, nao era certo parar. A indecisao agora me mastigava lentamente com sua saliva grossa. Voltei ao posto e perguntei pros frentistas, tem pousada em Alvorada de Minas? Tem sim, pode ir sem erro - o cara da secretaria de turismo disse que nao tinha. Sao 18 km, pensei, se nao tiver eu me viro. Botei a bike na estrada (muito boa por sinal, esta sendo preparada para o asfalto...) e as tres da tarde cheguei eu no arraial. A pousada é um lixo, mas ta muito bom. Tem comida no fogo de lenha hj de novo. Agora é lavar a roupa e ver o roteiro de amanha. Hoje a media foi 12,2 km/h, 50,7 km rodados, 4:07h de pneu rolando. Se olhar no mapa da ER da 38km, mas a indecisao andou comigo hoje.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Milho Verde - Quinta-Feira - 31/07/08 - 17h



Dormi muito bem em Diamantina, apesar do frio intenso. O quarto era quente e havia dois cobertores. Cafe as 7, leite quente, pao, manteiga, banana e mamao. Na hora de botar a bike na estrada os dois pneus estavam vazios. Mas eu tinha enchido ontem, na rodoviaria!? Bombei os dois pneus e subi um morro grande em direcao ao palacio episcopal. Depois fui tomando informacao com um e outro ate cair na estrada de terra. Eram 8:30 e a meta era chegar no Serro - mal sabia io que estava por vir. A estrada e larga e bem sinalixpzada com os marcos da ER. Mas tem muita areia e costelas que dificultam a pedalada. Na primeira ponte o pneu traseiro esvaziou de novo. Enchi e notei um easgo na lateral do pneu. Este pneu tem 8 anos, ja era tempo. Subi mais um pouco e quando o pneu esvaziou novamente resolvi consertar. Tirei a bagagem, a roda traseira, o pneu, remendei o furo na camara, fiz um manchao com um pedaco de plastico preto dobrado em 8 e montei tudo de novo. Perdi uma hora. Depois subi e desci muito ate chegar em Vau, um ligarejo de umas vinte casinhas sem nem uma venda. Tava com muita fome e sede, ja eram 11:30. Parei numa especie de carmanchao que tem no meio da vila pra comer rapadura com agua. Um rapaz me disse que eram 6 km de subida, mas nao explicou direito. Saindo de Vau, antes da ponte do Rio Jequitinhonha a corrente partiu. Voltei um pouco ate achar uma sombra no sol do meio-dia e remendei a corrente (santa chavinha de corrente, ja me salvou de quantas?!). De novo na estrada subindo com muita cautela e rezando um mantra pra corrente nao quebrar de novo. Na descida para o Jequi vi muitas criancas subindo na direcao contraria em direcao a Vau com pesadas mochilas e livros escolares. Pensei que se eu fosse rico comprava um onibus escolar pra eles nao terem de torrar neste sol pra frequentar as aulas. Desci ate o rio, muita pedra solta e areiao. Na subida o medo da corrente partir. Na descida o medo do pneu rasgar. Pouco antes da ponte vi o onibus dos meninos quebrado. Ja nao preciso ficar tao rico. Do rio Jequitunhonha ate Sao Goncalo do Rio das Pedras (um quase lugar) sao 6 km da subida mais infernal que existe. Tive que descansar e empurrar as vezes. Cheguei no lugarejo quase duas da tarde, muito cansado - estou muito fora de forma. Achei uma venda dessas que tem tudo. O Diogo, filho do dono da venda tem uma borracharia (naquele lugar) e vende pneu de bicicleta. Comprei o unico modelo que ele tinha um fininho que so era melhor que o meu porque apareceram mais dois rasgos! Troquei o pneu, tomei uma coca e parti. Passei por um argentino e uma garota em duas bikes muito carregadas. Como ele conseguiram subir aquele morro? fico me perguntando ate agora. Ele me disse que ia dormir em Sao Goncalo, eu me mandei pra Milho Verde. Sete quilometros com subidas leves, tudo tranquilo ate que na entrada da cidade a camara de ar traseira explodiu. Eram 2:40 da tarde, dava pra chegar no Serro se nao fosse tanto azer. Parei numa loja de bikes e o Tiago nao tinha camara com bico fino - o tipo da minha. O jeito foi botar a minha unica camara reserva e fazer uma novena para nao ter mais problemas na estrada. Trocamos ideias sobre o pneu que eu comprara em Sao Goncalo e concluimos que ele fizera a camara estourar. Muito fino, borracha muito ruim. Acabei negociando o pneu com ele e comprei outro, mais grosso e adequado a pedreira deste trecho. Acaboi era, 3:40, desisti de ir pro Serro porque se tuddo corresse bem eu chegaria no comeco da noite. Hoje nao é um dias em que as coisas correm bem, preferi nao dar chance ao azar e vou dormir em Milho Verde. A pousada da D Lourdes tem um quarto pequeno mas confortavel. R$ 25 com jantar no fogo de lenha, sem balanca - hj eu como um quilo e meio. Amanha saio cedo pra chegar em Conceicao do Mato Dentro. Serao 82 km de costela e areia. Hj fiz media de 10,7 km/h, 4h de pneu rolando, 44,1 km.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ultimo post de Diamantina - Quarta Feira - 30/07/08 - 22h


O onibus chegou pontualmente as 20:30h. A rodoviaria é minima, um arraial de rodoviaria. Montar a bike foi bem mais simples do que pensava. Um carinha que fez a ER a pe no ano passado se aproximou puxando papo. Me eeu dicas importantes como por exemplo o dono da unica pousada de Cocais nao gosta de receber gente muito suja sem reserva. Preciso ligar e fazer uma reserva, hein! Depois de montada a bile desci umas ladeiras imensas, parecia que nao ia ter fim ate que cheguei na Pousada Serrana em que o Jeremias me atendeu cordialmente. Nada de pedir 10 reais...: muito boa a pousada e com otimo atendimento por 40 reais a pernoite com cafe. Amanha saio as 7:30.

Diamantina

Viagem longa e cansativa. Enquanto houve sol pude ver os campos que margeiam a rodovia e a pobreza dos que vivem da pobreza que passa nos caminhoes e onibus. Uma melancolia azul me acompanha com se fosse uma nuvem comprida. Dormi um pouco, li uns capitulos do livro do Matt Dickinson, parada em Curvelo para comer pao-de-queijo de verdade e leite quente, mais duas horas de viagem ate a Diamantina. Diamantina é uma cidade de trzentos anos, fico pensando na legiao de almas que desencarnou ao longo do tempo e ficou acampada ao redor da cidade (porque la dentro os fantasmas nao consentem com as luzes e o barulho). Almas purgando aa espera, algumas dormindo, outras compenetradas em seu silencio secular, outras agindo como se estivessem pateticamente vivas. Da janela do onibus da pra ver as vezes, quando o farol se alonga no campo, as rochas claras da serra de diamantina. Penso na alma do meu avo atravessando a chuva na serra de diamantina, montando seu cavalo chucro, o chapeu pesado caindo na frente do rosto, em direcao aa Gouveia. Vai aa casa do compadre Mane, decerto, casa que nao existe mais. O velho Canabrava ainda deve ser moço nesse tempo paralelo e faz o chucro circular infinitamente na chuva eterna, rastreando a casa do compadre Mane da Gouveia. No pontilhao de Biri-Biri minhas primas acenam vestidas em seus maios setentoes, atentas ao barulho do trem que nao passa mais. Nao digam a minha mae que voces me viram aqui. Amanha vou subir pro Serro Frio, primas, nao e a cavalo nao, mas é como se fosse.

Rodoviaria de BH 30/07/08 - 15h

Cheguei cedo pq as coisas sairam meio tortas nos ultimos dias. Foi preciso improvisae e ter paciencia com as pessoas que se oferecem pra ajudar e cobram 10 reais!! Antigamente... Enfim! A viagem ate Diamantina deve durar 5 horas. O plano eh montar a bike na rodoviaria e ir pedalando ate a pousada do jeremias. Nome biblico. Segundo um conhecido meu, um dos quatro cavaleiros do apocalipse. espero dormir e deixar no sono a cara de terca=feira. Amanha estaremos livres, on the road! )